Sunday, March 10, 2013

Qualquer argumento que vos ocorra...


..torna-se inválido, porque temos um tanque. Hooyah!


O desenvolvimento do Airsoft é muito curioso.
Quando comecei a jogar, em 2002, a estrutura era, por assim dizer, monárquica. Não que existisse um reizinho a mandar em todos, mas na verdadeira ascensão da palavra mono+arche (um só principio). Quer isto dizer que no topo da pirâmide estava o principio "Airsoft", cuja sua trindade fundamental se regia pelos seguintes valores: Honra; Fairplay; Amizade.
As equipas pontuavam-se então nessa pirâmide hierárquica conforme correspondessem mais ou menos a esse principio, posições essas que permutavam conforme esta ou aquela equipa se destacasse pela positiva. Estar nos lugares cimeiros não era no entanto uma questão de poder. Os lugares cimeiros eram ocupados pelas equipas que mais tempo (e dinheiro) despendiam com o Airsoft, e que mais se dedicavam a manter os princípios fundamentais sempre presentes. Era uma questão de responsabilidade.
Foi nesta época que a qualidade se manifestou com mais vivacidade, os jogos eram realmente inovadores, e as equipas concorriam entre si de forma saudável e em prol do arquétipo Airsoft.
Com a introdução das lojas nacionais e a divulgação online, sucedeu-se a fase democrática, isto por volta de 2004. Deu-se um "boom" de jogadores e de equipas, que viam com muito maus olhos a existência de uma hierarquia dentro do Airsoft.
Todos quiseram pautar-se portanto pela tábula rasa, ninguém era mais do que ninguém, todos tinham o direito de tudo e mais alguma coisa, e logicamente as antigas equipas de topo foram atacadas para descerem ao nível de tudo o resto. O fenómeno é curioso, e a resultante prática foi a seguinte:
- Quantidade ao invés de qualidade. Os jogos de maior relevo começaram a apostar, não nos bem desenvolvidos motores de jogo e em ideias inovadoras, mas sim em colocar "muita coisa" no campo de jogo. Não houve desenvolvimentos na forma de jogar, apenas jogos de escala megalómana.
- Dinheiro. É obvio que quando se quer meter muita coisa em jogo, tem de haver alguém que pague por isso. Começou a ser comum cobrar aos jogadores preços altíssimos para jogos que quanto a mim eram apenas superficiais, pois em substância não valiam os preços cobrados.
- Burocratização. Uma vez que todos tinham direito a tudo e mais alguma coisa, inclusive o direito a não se acusar como morto quando atingido, a desconfiança começou a reinar entre todos. Os jogos chegaram a extremos de constantemente haver pessoal a acusar-se mutuamente. Para combater esta tendência e tentar defender os seus jogos, as organizações começaram a exigir dos jogadores uma série de trâmites para jogar: cartão de federado; chrony's; obsessão pela pontualidade; confirmações com antecedências absurdas; etc..
- Retórica. Como todos tinham o direito a tudo, também todos queriam ser mais do que os outros. Desenvolveram-se verdadeiros conceitos retóricos com o fito de despromover jogadores e equipas, para que outras de menor valor se emancipassem. Nenhum desses exercícios de mera retórica teve qualquer valor susbtâncial e felizmente já começam hoje em dia a cair no ridículo, mas na época enganaram muita gente, que se deixou enganar: consciente ou inconscientemente.
Esta fase democrática trouxe essencialmente desunião, de uma Associação de Promoção ao Desporto, passámos a umas quatro, o que não faz qualquer sentido; de um fórum comunitário, tentou-se fazer dois ou três; e as discussões e mau estar em jogo passaram a ser comuns.
Pessoalmente nesta fase deixei praticamente de jogar. O Airsoft tinha-se tornado um circo em chamas.
Actualmente o Airsoft voltou a dar uma reviravolta.
Mesmo na chamada fase democrática entrou muita gente de qualidade que percebeu a seu tempo o caminho pelo qual o desporto estava a ir, e que conscientes perceberam que mais vale retornar à qualidade ao invés da quantidade.
Os últimos jogos que tenho feito com a minha equipa têm sido todos feitos a convite, são poucos ao longo do ano, somos muito selectivos e a verdade é que não nos arrependemos em nada. Na verdade voltámos a gostar de jogar. Melhor do que fazer uma "Black List" foi fazer uma "White List". Somos discretos, e só procuramos aqueles com os quais nos identificamos: a democracia é uma fantasia.


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