Monday, August 16, 2010

Travellers Guide to: Morocco


With your host: Carlos Rosallis


Num percurso de 3.060 Km de carro, fizemos:

Lisboa-Tânger-Marrakesh-Ouarzazate-Casablanca-Sevilha-Lisboa.


Marrocos é uma experiência inesquecível. Conforme referíamos entre nós, já em nota de conclusão de férias: "- apanhámos de tudo."

Esta viagem de Norte a Sul do pais foi extraordinariamente enriquecedora, no sentido em que por primeira vez tive realmente contacto com uma cultura tão diferente da nossa e logo, a cultura muçulmana.


1. Tânger.


Foi uma terapia de choque que nos preparou e imunizou para os restantes dias. O desembarque em Tânger é logo dramático.

No momento em que saímos com o carro do barco que faz a ligação Tarifa-Tânger e, no momento em que pisamos solo marroquino, nesse mesmo preciso segundo, já estamos a ser rodeados pelos locais, identificados como trabalhadores da alfândega, que usam e abusam da sua extrema habilidade em sacar dinheiro do incauto turista, como era o nosso caso.

A estratégia é simples (e extenuante para as vitimas):

Debaixo de muito alarido e uma grande azafama, pedem-nos documentos e prestam-se a tratar de tudo -como aliás se poderia confiar a alegados membros dos serviços alfandegários-.

Uma vez que nos apanham os passaportes, já está.

Sempre sobre grande pressa, correria, conversas entre eles em árabe (de forma a nada percebermos) e, muita pressão induzida, começam “gentilmente” a levar-nos aos guichés certos para carimbar os passaportes e, tratar do visto do carro. Pelo meio vão pedindo propines (do francês: propinas; que é como quem diz, gorjetas) pela sua boa vontade e, é mesmo chocante como não se fazem nada rogados nos valores que pedem.

Outro aspecto importante a referir no âmbito da sagaz estratégia de extorsão de dinheiro é o facto de isolarem as pessoas do grupo de forma a quebrar a comunicação entre nós e, logicamente, sacarem a cada indivíduo o máximo de dinheiro possível pelas “gentilezas” a que se prestam.

Com uma grande lábia, constragem de tal modo as pessoas, que facilmente nos sacaram 20€ em propines.

Saímos de tal forma zonzos e esgotados da pressão que nos é induzida para sacarem gorjetas que, quando pousamos as malas no Hotel, já só nos apetecia mandar tudo para o inferno e voltar para onde quer que fosse, longe de Marrocos e dos marroquins.

Essencialmente, a experiência da alfândega, será um prefácio ultra-condensando para o que poderíamos esperar deste povo, tão hábil na arte de extorquir Dirhams.

Felizmente, é também o momento mais agressivo no que diz respeito a este género de abordagens que se irão atenuar conforme viajamos para Sul.

Tânger foi detestável, já que só tivemos abordagens desta natureza e, por mais ridículo que possa parecer, a sermos constantemente compelidos a pagar serviços de coisa nenhuma.

Tânger é uma espécie de mal necessário.


2. Marrakech


Marrakech serve essencialmente ao comércio e aqui sim começa agradável experiência.

Ficámos instalados em plena medina. Por entre tortuosos e estreitos corredores das suas entranhas, situava-se a riad que partilhávamos com uma mãe e filha marroquinas.

Aqui sim, tivemos a experiência do habitar, de sair a porta de casa e de, pelos labirínticos corredores onde a miudagem jogava á bola em grande azafama, chegar ao caótico souq onde nos tínhamos de desviar de motociclos, bicicletas, carroças e, vendedores.

Em Marrocos nada tem preço, tudo se negoceia e, rapidamente entramos neste sistema.

A oferta inicial do vendedor é sempre exorbitantemente alta, há que virar costas e, de forma desinteressada, deixar escapar um non, trop chère (Não, muito caro). Imediatamente o vendedor tentava-nos segurar, arrastar-nos para dentro da sua loja e, quando cuspia finalmente um dites vôtre prix (Digam o vosso preço) ai sim, abriam-se as portas á negociata.

Na nossa estratégia, avaliávamos então mentalmente o preço justo do artigo e proponhamos geralmente uma média de 50 Dirhams abaixo (sendo que fizemos as mais significativas compras na ordem dos 80-150 Dirhams, tendo sido o máximo valor de compra de 200 Dirhams reduzidos de uma oferta inicial de 800!).

Havia então que ser persistente, -com alguma cautela também para que o vendedor não desista da venda- e geralmente a coisa corria bem, caso contrário tínhamos sempre em mente que se ele não vendesse por um bom preço, outro venderia (e eles próprios sabem disso).

Não nos demos mal de todo a regatear, tendo mesmo recebido o elogio de um vendedor que nos disse, no final da negociata por uma Darbuka:

“-Vocês os portugueses são como os marroquinos, pronto: levem lá isso.”

Muitas outras experiências inesquecíveis se deram por Marrakech, que neste texto não poderei estender -sob risco de isto se tornar o never ending story-, como os 50ºC sob os quais caminhámos, o macaquinho “Charlie” em cima da Cátia ou, o “Emir De Neto” a ser em rabat e pagar exorbitantes 180 Dirhams pelo “Best of Morocco”, CD que nos acompanharia pelo resto da viagem.


3. Ouarzazate.


Ouarzazate e chegamos ás portas do deserto.

Aqui o ponto forte são de facto as paisagens, a viagem por sinuosas estradas que rasgam as montanhas do Baixo Atlas levou-nos cerca de cinco horas, monte acima, monte abaixo, atrás de camiões cheios até cima de gado, ovelhas e, ocasionalmente pessoas lá pelo meio.

As pequenas povoações que ocasionalmente surgem pelo caminho caracterizam-se por uma arquitectura de argila vermelha que se diluí com a própria paisagem, de facto magnifico em termos paisagísticos.

Em Ouarzazate tínhamos ao dispor um magnifico hotel, que merece ser citado. Terá mesmo sido o melhor (apesar de incomparável com a experiência da riad de Marrakech) onde recompusemos energias na, não menos magnifica, piscina.

Uma visita aos estúdios do Atlas, onde foram filmadas diversas cenas de conhecidos filmes, como o “Kundun”; “Astérix & Obelix: Mission Cleopatra”; “Lawrence of Arabia”; “Babel”; “Gladiator”; etc.. e outra á Kashbar local serão os principais apontamentos no que diz respeito a locais.

Em termos de experiências culturais, a assinalar que aqui apanhámos o inicio do ramadão, que consegue deixar praças inundadas de pessoas como verdadeiros desertos por onde vagueia um ou outro turista e sobretudo, o contacto que tivemos com um berbere (um verdadeiro, não como alegados berberes que andavam por Marrakech) e que nos deixou a todos prostrados tal a forma como este povo vive pacificamente com o meio ambiente que o rodeia e como se preocupam em difundir a sua cultura tal como em mutuo respeito no conhecimento de outras culturas.

Este ano estava prevista uma noite Berbere que acabamos por não fazer pois este primeiro contacto foi fundamental para prepararmos uma segunda investida a Marrocos que incidirá fundamentalmente sobre os Berberes.


4. Casablanca.


Casablanca é uma cidade.

Já se trata do final da longa viagem e serviu unicamente para passar a noite antes de seguirmos então de volta para a Europa. Andamos horas perdidos em busca do Hotel em que deveríamos ficar, no meio de um trânsito capaz de dar cabo dos nervos a um santo.

Do pouco que vi enquanto procurávamos o dito Hotel, tive alguma pena de não ter visitado a Mesquita Hassan II mas também pouco mais, Casablanca é uma cidade e depois de Marrakech e Ouarzazate parece fazer pouco sentido


De uma forma muito muito muito sumarizada, foi assim a experiência de Marrocos que esperamos repetir.

Viemos com uma bagagem de histórias talvez um pouco demasiado pessoais para transcrever neste blog e muito mais agradáveis de serem contadas ao vivo.

Quanto a desenhos, só há um e muito mal enjorcado dada a minha enorme inexperiência com aguarelas (segundo a Cátia, com toda a razão, fiz um pastel) e dada a obvia azafama marroquina que não me permitiu o espaço e o tempo para tais afazares.


Meus petizes, assim termino com um: ide visitar o morocco, ide...



3 comments:

  1. Been There, Done That!
    Se eu fosse Marrocino acho que faria o mesmo ... Law of the Jungle.

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  2. Pois, comentamos precisamente o mesmo. Se fossemos marroquinos fazíamos precisamente o mesmo.
    Viste também na zona dos barcos os gajos a meterem-se debaixo dos autocarros para tentarem entrar ilegalmente na Europa?
    Hasta dia 4, motherfucker! ;)

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  3. Vi Melhor caro amigo... no regresso a Espanha, um clandestino Morroquino a ser completamente espancado pela policia espanhola! Foi apanhado por um guarda espanhol, que viu ao longe o animal pendurado a meio do casco (na Ré do Navio) por uma cordas... e veio assim desde Tânger, toda a viagem... impressionante!
    Devia era receber uma medalha de determinação, ao invés do caloroso espancamento.

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