Wednesday, August 4, 2010

Arte em Portugal.


Sendo eu um indivíduo dedicado ás artes, admito que a mesma estratégia de afinação pessoal que uso na concepção das minhas ilustrações (ou outros trabalhos de mesmo caracter) se rebate, quase por intuição, nos meus ideais de sociedade; num segundo aspecto, antes de prosseguir, explico também que, tendo sido aluno do Liceu Francês, tendo sempre a estabelecer raciocínios num ordenamento matemático.

Quero com isto dizer que, tento sempre defender e justificar as minhas conclusões com base numa lógica muito simples que me diz que todas as variáveis são decorrentes de uma única base ou seja, por n variações que possamos verificar numa equação (seja ela de que ordem for) a base estará sempre invariavelmente latente em cada uma das suas múltiplas expressões.

Retomando então a questão nas artes, uma das principais características do desenvolvimento artístico reside na tentativa de aproximação á perfeição, subentendido do latim perfectum, ou seja, a completitude absoluta e por consequente: o eterno.

É lógico que essa aproximação se estende a um valor infinito e logo, jamais por nós alcançável sendo este um valor que nos transcende; tal como todos os rectângulos tendem a se aproximar de um cubo sem nunca lá chegar.

O que portanto afirmo é que existe uma incessante busca pelo arquétipo máximo, logo o mono arque (do grego, um único principio) e, de onde derivou a palavra "monarca".

Por sua vez, o sistema democrático rege-se, não pelo desejo de ascender ao arquétipo máximo, mas sim pelos valores quantitativos, ou seja, em suma: quem tem "mais" é correlativamente "melhor".

Já no caso monárquico, podemos configurar este ideal sob a forma geométrica de uma pirâmide, onde num topo inatingível reside o tal arquétipo máximo de onde tudo decorre num sentido descendente (desta mesma lógica de um afastamento ao arquétipo máximo se origina etimologicamente a palavra inferno, do latim inferus “lugares baixos” e de onde claramento podemos depreender a origem da noção de “inferior”).



Graças a esta simples configuração geométrica podemos depreender muito simplesmente que (A) quanto mais subimos e, nos aproximamos do topo, mais restricto se torna o nosso plano de idênticos e, (B) quando mais baixo descermos, maior a abrangência do nosso plano. Sendo que a ascese ao topo se consegue por uma via intelectual e espiritual em oposição á base, onde residem todos os instintos materiais e primários.


Serve esta exposição, para justificar e expressar todo o meu apoio ao referido pelo Exmo. Sr. Dr. José Pacheco Pereira na sua crónica para o Sábado, intitulada: “O “Culturalês” e o poder da auto-classificação” que pode ser lido aqui e, que trata precisamente de um problema, na minha opinião, de fundo democrático (já expresso neste blog aqui) cuja derivação foi a lógica e dramática degradação no âmbito da cultura e das artes em Portugal.

Pior ainda foram as manifestações. Não daqueles que são referidos na crónica, pois esses, simplesmente ao se manifestarem (e pelos termos em que vi tais manifestações) deram razão ao que é referido.

Choca-me sim, a falta de caracter do povo português, que de forma ignorante não mostra qualquer aptidão para questionar os artistas, é um elemento passivo àquilo que lhe é imposto no âmbito da cultura e das artes pois teme simplesmente, dado o reconhecimento da sua ignorância, confrontar o que o comum (dito ordinário) determina. O português assiste impávido e sereno aos espectáculos e exposições por força da estratégia de integração social (sentir-se parte integrante de algo) e, incapaz de formular uma opinião perante o que assiste, agride de forma desenfreada qualquer pessoa que se imponha ou que ouse questionar o que se passa neste âmbito como um qualquer animal selvagem a proteger a sua manada a uma agressão exterior.

Tal como o cavalo branco no pantâno da tristeza, do filme The never ending story, a crónica em questão caiu á mercê da opinião pública.

Finalmente -e em nota de conclusão- aconselho a todos a leitura de “O caso mental português”, de Fernando Pessoa. Não só tem, para nós portugueses, um essencial papel de introspecção como compreenderão o verdadeiro valor, no âmbito nacional, da expressão:


“Eu sou artista.”



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